Adoração
a Shiva: Uma perspectiva
Editorial
(The Vedanta Kesari - Maio de 1991)
Você já se
questionou sobre a maneira com que shiva é retratado na tradição Indiana? Por que, por
exemplo, ele tem um velho boi como seu veículo (vahana) em contraste às escolhas mais elegantes feitas por outras deidades,
como o leão de Durga e a
águia dourada de Vishnu? Por que, novamente, shiva prefere ter serpentes
adornando Seu pescoço e braços, em nítido contraste com os ofuscantes e
preciosos ornamentos com que outras deidades são usualmente vistas? Por que ele
tem apenas uma pele de tigre para se cobrir em contraste com as vestimentas de
seda coloridas de outros deuses e deusas? Encantadores anjos alados atendem às
outras deidades, mas por que shiva prefere como Seus atendentes criaturas
deformadas e repugnantes comumente rejeitadas tanto pelos homens quanto pelos
deuses?
Por que, somos
compelidos a indagar, seria shiva tão diferente da concepção popular de um Deus
Pessoal? Por que Ele seria tão diferente das outras deidades? Esta é uma
questão que havia inquietado a alguém dentre a imensa multidão que se reunira
para a adoração a shiva neste ano na segunda semana de fevereiro em nosso Monastério de Madras.
No dia seguinte ao culto ele fez esta pergunta para muitas pessoas. Alguns não
davam importância a isto. Outros se mantinham calados. Alguns diziam, ‘Que
pergunta? shiva é assim. É o que diz a nossa tradição. Abandone o hábito de perguntar o
porquê de tudo.’ Uns poucos diziam, ‘Tudo relacionado com shiva é simbólico.’ Eles
disseram que o boi representa o dharma, as serpentes representam o tempo, e assim por
diante. As escolas de filosofia saiva têm discutido esta simbologia em grandes
detalhes. Quando um estudante de Vedanta fazia esta pergunta, ele dava uma
resposta terra-a-terra que de certo modo satisfazia tanto a cabeça quanto o
coração. O que se segue é um resumo do que ele dizia.
Natureza de shiva
A chave para o
entendimento da natureza de shiva reside no episódio da bateção do Oceano de
Leite. Diz-se que grandes tesouros jaziam no ventre do oceano, inclusive o
néctar, o ‘elixir da imortalidade’ (amrta). Os habitantes de todos os diferentes mundos
celestiais tinham se reunido: Devas, Asuras, Yakshas, Gandharvas, e outros. A única personalidade ausente era shiva. Ele não dava importância
a todos aqueles tesouros do Oceano de Leite considerados como sendo cheios de
plenitude. A bateção começou e, um após outro, inumeráveis objetos
interessantes, valorosos, começaram a emergir. Todos se precipitavam sobre
eles. Depois de um tempo, apareceu sobre a superfície uma escura e fumegante
poção. Isto fez com que todos recuassem aterrorizados. A furiosa poção que
jorrava ameaçava engolir o universo inteiro, destruindo todas as pessoas e
coisas. O que podia ser feito? Se a intensa devastação podia ser evitada, havia
realmente uma só coisa que eles podiam fazer: mandar chamar shiva para receber o
que nenhum outro pode. Quando o Grande Deus, Mahadeva, apareceu em sena, ele
gentilmente tomou a poção em suas palmas e calmamente bebeu-na. O que tinha o
poder de aniquilar o universo inteiro não podia provocar nenhum mal a shiva. Ele simplesmente
ficou com uma mancha azul em Sua garganta, como símbolo, para todo o tempo,
resultante do poder e da natureza do Grande Deus. Desde então um dos Seus nomes
favoritos ficou sendo Nilakantha, o Garganta-azul. Todos suspiraram de alívio.
Depois da missão salvadora, shiva voltou seus passos para o Seu bosque de
meditação. Sem dar a mínima pelos aplausos e expressões de gratidão dos ali
reunidos. Além disso, ele não estava tampouco curioso sobre quem tinha
embolsado que tesouros, nem interessado em obter um pequeno gole do ‘elixir da
imortalidade’, que era a bebida mais cobiçada, pela qual todos estavam
esperando.
A característica
dominante de shiva agora se tornou evidente. Em primeiro lugar,
uma majestosa indiferença por tudo o que o comum da humanidade considera caro.
Em segundo lugar, a boa-vontade em aceitar o que é rejeitado por todos. E em
terceiro, a prontidão para se sacrificar e estar a serviço dos outros. Todas as
histórias a respeito de shiva revelam uma ou mais destas características.
Agora nós começamos
a entender por que ele não carrega nenhum ornamento de ouro; por que jóias e
diamantes não encontram lugar Nele; por que ele usa a maior parte do seu tempo
meditando no Absoluto em um recanto isolado, fora da algazarra das atividades
banais; por que Ele prefere um velho touro e os desprezados como seus
companheiros. Todos preferem aos bons e aos belos. Para onde, então, podem ir
os maus e os repugnantes? Quem irá aceita-los? shiva diz, venham para
Mim. O mundo rejeitou vocês, Eu nunca o farei. Assim as serpentes, aquelas
criaturas assustadoras, tomam lugar como ornamentos de shiva. Ele tem um colar
de serpentes, braceletes de serpentes, uma guirlanda de serpentes. Mesmo o seu
cordão sagrado (yajñopav¯ta) é uma serpente! Então existem escorpiões e
tarântulas movendo-se livremente em torno dele, sem o medo de serem perseguidos
e mortos por homens e mulheres terríveis. E, certamente, há um touro velho que
ninguém deseja. Um touro novo pode ser
subjugado ao arado ou usado para a reprodução. Mas qual a utilidade de um touro
velho? Qual é o objetivo de alimenta-lo para nada? Assim, freqüentemente sob a
aparência de prática religiosa o religioso deixa-o livre para vagar à deriva e
arranjar-se por si mesmo, enquanto o homem prático do mundo opta por fazer
algum dinheiro extra entregando-o ao matadouro. shiva diz, este velho
touro será Meu veículo. A morada de shiva, Kailasa, é um lugar que todos rejeitaram, sem valor. Criaturas derrotadas
procuram um lugar para onde elas possam ir e ser aceitas. shiva torna-se o mestre
delas. Por esse motivo ele é Bh¶tanatha, o Senhor dos seres, de
todos os seres realmente, mas particularmente daqueles que não têm mais nenhum
lugar para onde ir, e ninguém mais para chamarem de seu.
Com esta compreensão
sobre shiva, nós podemos agora retornar a exposição
anterior sobre o Seu culto. O verdadeiro culto a shiva pressupõe três
idéias: Primeiro, você estar convencido de que as características de shiva são virtudes dignas de serem procuradas com
ardor em sua própria vida. Segundo, você
acreditar firmemente que, satisfeito pela sua adoração, shiva concederá a você
a força para adquirir estas virtudes. Terceiro, realizar que a adoração à shiva é parte do dia-a-dia tanto quanto o é o
sagrado Maha½ivaratri celebrado uma vez por ano. Todas estas três
idéias são essenciais se a sua adoração a shiva não é para ser reduzida a um ritual mecânico e
um encontro social sob a capa da religião.
A natureza de shiva versus a
natureza do J¯va
‘As características de shiva poderão, algum dia, se tornarem as minhas
características?’ o adorador de shiva pode perguntar a si mesmo.
Vedanta responde com um enfático sim. De fato, Vedanta vai mais adiante. Ela
diz que as características de shiva não podem se tornar suas,
elas já são as suas características. Você ainda não realizou esta verdade, isto
significa que existem algumas barreiras em você obstruindo a manifestação
daquelas características. Tudo o que você precisa fazer é remover esses
obstáculos, e então a sua natureza de shiva emergirá e brilhará. Esta é
uma declaração absolutamente audaciosa. Enquanto todas as escolas dualísticas
continuam batendo na mesma tecla com respeito a sua natureza ser a natureza de J¯va, Vedanta diz não, a sua natureza é a natureza de shiva.
Um J¯va é limitado. Ele não pode
ser indiferente às tentações do mundo. Ele é fascinado e influenciado pelos
instintos mundanos. Ele deseja o melhor que o mundo possa oferecer. Ele não
aceita de bom grado o que é rejeitado por todos. Enquanto ele aceita com prazer
o sacrifício que os outros façam por ele, ele mesmo não é capaz de sacrificar
nada de si. Estas são claras indicações de ignorância e escravidão. Se você
deseja se tornar livre, deverá parar de pensar em si mesmo como um J¯va, e começar a olhar para si mesmo como shiva.
O mero pensar sobre mim
mesmo como shiva tornar-me-á shiva?
Sim, diz a Vedanta, mas você deve recordar-se de dois pontos. O primeiro ponto
é que nada pode tornar você shiva a menos que você já seja shiva.
Se você é na verdade alguma outra coisa, você pode ser capaz de posar como shiva,
mas não de ser um shiva. E se, desta maneira,
deixe-nos dizer, você consegue se tornar shiva, você não pode permanecer
como shiva para sempre. Mas pela
autoridade das escrituras e pelas experiências de almas iluminadas nós sabemos
que todos os seres são realmente shiva e que a condição de shiva
é um fenômeno permanente e imutável. Assim, quando você pensa sobre si próprio
como shiva, você está pensando sobre
si próprio como você mesmo (é).
O segundo ponto que você
deve se recordar é que o pensamento não pode estar – em caso algum, poderia
estar – separado da fala e da ação. Quando pensamento, fala e ação são
antônimos, cada um seguindo a sua própria direção, a vida espiritual não é
possível. Mas quando eles estão interconectados, quer dizer, você fala o que
você pensa, e você faz o que você fala e pensa, você começa a saborear a grande
satisfação da harmonia, da paz, e do crescimento interior. Assim, o pensar sobre
si mesmo como shiva implica em usar a faculdade
da sua fala como shiva usaria a Sua, e de praticar
cada ação como Ele praticaria.
Agora aqui está uma
ordem quase impossível de se executar. Sabe lá Deus quantas vidas cada um de
nós tem sofrido a lavagem-cerebral de acreditar-se como sendo fraco, mortal e
um J¯va
pecador. E nós vivemos dizendo que tudo estaria errado, um grande erro, e nós
precisamos esquecer de tudo isto e olharmo-nos como grandiosos, imortais, e puro shiva.
Auto-hipnotismo? Exatamente o oposto, diz Vivekananda. Vocês já estão
hipnotizados. Vedanta pede a vocês que se des-hipnotizem através do
conhecimento da verdade sobre a sua real natureza. Ela pede a vocês que pensem
sobre si mesmos como vocês o são verdadeiramente.
Há uma
grande verdade psicológica enredada por trás do pensar sobre si mesmo como se
é. Além de outras formas de tratamento administrados àqueles que sofrem de
amnésia, há um esforço simultâneo para ajudar ao paciente recobrar sua memória
expondo a ele a sua face e objetos de outrora que lhes são familiares. Existe uma possibilidade, uma boa
possibilidade, que algum detalhe íntimo e particular da vida do paciente possa
evocar uma espécie de resposta da sua mente e as recordações reprimidas do
passado possam vir à tona. Você é shiva, diz a
Vedanta. De certo modo vocês se esqueceram disso. Estão sofrendo de uma amnésia
aguda. Recobre sua memória pelo esforço consciente de fazer quaisquer coisa
como shiva o
faria. Conecte-se a si mesmo com cada idéia, cada ação, cada característica de shiva. Isto enfraquecerá as barreiras que obstruem a
manifestação da sua natureza de shiva. Chega
o tempo, diz o ensinamento da Vedanta, em que as portas para a sua elevação
mental são abertas violentamente, todas as barreiras são desprezadas, e a
memória da sua condição de shiva flui em
seu ser por inteiro.
Culto a shiva: Prática
Agora a necessidade do Culto a shiva. Isto pode soar
um pouco estranho. Num momento você falou que você é em realidade shiva e no momento
seguinte pede que se cultue a shiva. A adoração de qualquer outra coisa que não
seja você mesmo é incompreensível. Contudo, sabe-se de uma forma de adoração em
que o adorador e o adorado são um! Vedanta diz, que mesmo que você não tenha
ouvido falar disto, isto não importa. Mesmo que você por todo o tempo tenha
sinceramente acreditado que shiva é alguém diferente de você, isto também não
tem importância. Você se sente atraído para o ideal que Ele representa? Você se
sente disposto em se esforçar por cultivar as virtudes que ele possui? Você se
sente inclinado a adorá-Lo? Se a resposta para estas perguntas é sim, então vá
em frente e faça seu culto a Ele. Vedanta garante a você que Ele responderá às
suas preces, e o testemunho de centena de milhares de adoradores de shiva poderia sustentar essa certeza. Um dos mais cativantes epítetos de shiva é £½utosha, ‘Aquele que é facilmente agradado,’ e os
adoradores de shiva poderiam contar a você o quanto isto é
verdade.
Quando o seu culto a shiva se tornar perfeito, quando seu amor por Ele se
aprofundar, quando o seu anelo em ser como Ele se intensificar, você irá para
tão próximo Dele e Ele chegará tão próximo a você, que se encontrará blasfêmia
mesmo no fato de se ter pensado Nele como completamente separado de você. De
certo modo você se sentirá ligado a Ele, relacionado a Ele. Você se sentirá uma
parte Dele. E quando este processo se tornar permanente, Vedanta diz que você
se reconhecerá um dia como sendo um com Ele. O amor sempre culmina na
experiência da unidade.
Por isso é que Vedanta nunca
condena o culto externo. Ela entende que este é uma necessidade psicológica
para todos os iniciantes no caminho espiritual. O KaÒhopanishad (2.1.1) ressalta que o homem é atraído para o externo
devido a tendência dos seus sentidos irem para fora. Assim ele não é capaz de
perceber o Ser no interior. Assim, uma abordagem objetiva da Realidade parece
sempre mais fácil que uma abordagem subjetiva. A modo Hindu de se cultuar leva
este fato em consideração. Aqueles que têm oficiado Puja, conhecem a base
filosófica de cada ritual que o abrangem, compreendem que estão realmente
cultuando o seu próprio Ser verdadeiro, pela sua evocação externamente numa
imagem, numa gravura ou num símbolo.
Pelo culto exterior de shiva
nós estamos apenas cultuando a nossa própria natureza de shiva
exteriorizada. Satisfeito com a adoração, a graça de shiva (shiva-prasada) entra em sua vida. Os Upanishads chamam a esta graça como a graça do Ser (atma- prasada). O Mundakopanishad (3.23) a descreve sob um ponto de vista que se torna
um enigma para todos os pensadores dualistas:
Ele que optou pelo Ser – por
ele apenas o ser é obtido. É o Self que
revela ao buscador a Sua verdadeira natureza.
O Gita (6.5) também diz que
o [aparentemente limitado] Ser deve ser erguido pelo Ser. É o verdadeiro Ser
que retira a si mesmo, por assim dizer, das garras da ignorância e da
escravidão. O culto a shiva, por esse motivo,
destina-se a livrar você da sua aparente natureza de J¯va, e isto é alcançado pela sua própria verdadeira
natureza de shiva.
Culto a shiva: Perfeição
Quando você obtém um vislumbre interno da sua
natureza de shiva, shiva deixa de ser uma deidade confinada num templo.
Você começa a perceber também a Sua realidade todo-penetrante. E deseja
adorá-Lo em qualquer parte em que O veja. Como você começou a vê-Lo em mais e
mais lugares, e finalmente em todas as coisas, você se sente como adorando a
tudo em todos. De fato, neste estágio, cada ação sua torna-se um culto. sr¯ sankaracarya descreve essa inefável
experiência em um dos seus mais encantadores hinos devocionais:
Ó shiva, tu és o meu Ser. A Divina Mãe é minha mente.
Meus sentidos são Teus atendentes e este meu corpo é a Tua morada. Todos estes
contatos sensoriais são partes da Tua adoração. Meu sono é como a permanência
no Teu Samadhi. Para qualquer lugar que eu vá, estou sempre
ao redor de Ti. Todas as palavras que eu profiro, são hinos a Ti. E todas as
formas de atividades em que me engajo, Ó shiva, são o Teu culto.
Quando a sua natureza de shiva tornar-se mais e
mais manifestada, você também, como shiva, começará a amar e servir a todos,
particularmente ao pobre, o mal tratado, o derrotado deste mundo. Você estará
pronto, como shiva, a aceitar o que os demais rejeitam,e o
sacrifício pelos outros chega naturalmente a você. Quando swami Vivekananda
visitou o Templo de shiva de
Rameswaram, ele se referiu a esta forma ‘madura’ de culto a shiva confrontando-a
com a variedade ‘preliminar’:
Esta é a essência de toda
adoração – ser puro e fazer o bem aos outros. Aquele que vê shiva no pobre, no fraco e no derrotado, realmente adora a shiva; e se ele vê shiva apenas na imagem, sua
adoração é meramente preliminar. Aquele que tem servido e socorrido a um homem
pobre, vendo a shiva nele, sem reparar na sua
casta, ou credo, ou raça, ou qualquer outra característica, com este, shiva está mais satisfeito do que com aquele que O vê apenas nos templos.
Swamiji relatou uma história
para enfatizar este ponto:
Um homem rico tinha um
jardim e dois jardineiros. Um dos jardineiros era muito preguiçoso e não
trabalhava; mas quando o dono vinha ao jardim, o homem preguiçoso se levantava
e, cruzando seus braços, dizia, ‘Quão bela é a face do meu amo!’ e dançava
diante dele. O outro jardineiro não era de falar muito, mas trabalhava duro, e
produzia toda a sorte de frutas e vegetais os quais ele carregava em sua cabeça
para seu amo que vivia muito distante dali.
Desses dois jardineiros,
qual era o mais amado do seu amo? shiva é esse amo, e este mundo é
o Seu jardim, e existem dois tipos de jardineiros aqui; aquele que é
preguiçoso, hipócrita, e que nada faz, que apenas fala sobre os belos olhos e
nariz de shiva, etc; e o outro que está
cuidando dos filhos de shiva, que são todos os pobres e
fracas, os animais, e toda a Sua criação. Qual desses seria o mais amado de shiva? Certamente aquele que serve aos seus filhos vem primeiro. Aquele que
deseja servir a shiva deve primeiro servir aos
seus filhos – deve servir primeiro a todas as criaturas deste mundo. É dito no sastra que aquele que serve ao
servo de Deus é o maior dentre os
servos.
Swamiji enfatizou nesta
preleção de Rameswaram a importância da pureza e da prontidão ao serviço, que
são as características cardinais de shiva. Ele mostrou que shiva
reside em cada ser, e quando o coração se torna puro Ele Se manifesta. ‘shiva
também está no coração de todos,’ disse Swamiji. É o egoísmo que impede a
manifestação da natureza de shiva. O espírito de sacrifício revelará shiva
em você. Swamiji concluiu a sua preleção com:
Inegoísmo é o teste da
religião. Aquele que é mais inegoísta é mais o espiritual e o mais próximo a shiva.
Quer ele seja instruído quer ignorante, ele está mais próximo de shiva que qualquer outro, quer ele saiba disto ou
não. E se um homem é egoísta, mesmo que ele tenha visitado todos os templos,
visto todos os lugares de peregrinação, e se pintado como um leopardo, ele
permanece mais afastado de shiva.
Nós vimos que por trás da
bastante incomum e misteriosa descrição da aparência de shiva
reside o ideal Vedântico do desapego, pureza e inegoísmo. O culto a shiva
simboliza três idéias: aceitação do ideal Vedântico como encontrado na Sua
descrição; tomar refúgio Nele e procurar o Seu socorro para manifestar este
ideal na sua vida; a descoberta de que a adoração a shiva
não só é possível no templo, mas até mesmo fora dele. Este culto ‘externo’ é o
serviço ao homem reconhecendo-o como sendo na realidade o Próprio Deus. Isto é
expressado numa frase popular: shiva-jñane
J¯va-seva,
‘Servir ao J¯va reconhecendo nele o Próprio
shiva.‘
O culto a shiva,
compreendido sob esta luz, torna-se inseparável de qualquer forma de disciplina
Vedântica e pavimenta o caminho para a obtenção da mais elevada paz,
bem-aventuraça e perfeição.